domingo, setembro 13, 2009

FOTOSSÍNTESES

Acerca-te à janela, aí a luz cruza livremente, guarda o princípio universal, a velocidade de um meteoro; faz visível qualquer superfície e desenha teu rosto.

O obturador deixa-te descer. Oferece-nos a possibilidade de registar fenómenos fugazes. Teu corpo apresenta os detalhes. O céu é uma fúria, reproduz-se com uma cor mais forte e fica o sol nítido. (O sol tudo desenha ao tocar seus remos)

Observa o depois, parece uma coincidência que estejamos presentes em algo que passou voando por um mausoléu e se deteve celeste, mais adiante, num ramo.

A isto depois chamar-lhe-ão fotografia:

esse algo que você viu e agora recorda.

Não subiremos o diafragma, essa é minha última vontade, estou seguro, seremos heróis. Vou dizer-lhe uma sozinha vez, a parede será um chapéu porque o sol é um Niágara e toca teu frente.

Entre nós não há nada, salvo o que ocorre quando nos observamos. Arrastamos a luminação perfeita, o gato dorme para não esquecer a casa. Salta do obturador um barulho principal, é o mesmo de uma máquina de escrever. O destino é o mesmo para todos.

A fonte prove de um flash electrónico com chapéu a uns 65 centímetros acima de meu ombro. Depois, o borde de um lampejo regressou tudo, regressa tudo a meus olhos, a solidão de uma estação de comboios ficou impressa, e tu com a paciência da erva.

Durante muitos anos roubo-te numa cita, num instante, concreto e isolado. A foto é uma frase para que não desapareças. Olha o enquadre, deixa de tocar-te no espelho, um retrato não é uma semelhança. Não te preocupes a garganta, já quase termino o rolo; pronto, teu corpo revolto sobreviverá ao tempo. Uma máquina o copiou, isso é o que importa no castelo num dia de verão.

1.- O obturador deixa-te acender em todas essas cores, em todas essas linhas e na forma te captura, te compartilha, te leva a outra terra.
2.- Não precisamos saber mais palavras, aqui o corpo petrificado é belo, sem dupla intenção; pendurado de uma abeja ignora o silêncio que lhe rodeia.

3.- Ontem era o átomo de uma empregada de mesa atenta. Não quero descrever em realidade como és. Hoje entras às seis. Com a blusa limpa caminhas pela rua e nada se detém em tua umbigo, por isso a ponta da beleza é efémera por isso Nadar, Julia Margaret Cameron, e os olhos os temos atentos, indecisos a teu cintura que dorme, às ruínas que levas por diante e o andar encerado cria uma visão que não lhe importa o Pistolletto.

5.- Anotemos as impressões.


Ramón Peralta

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